terça-feira, março 29, 2005

Descoberta...

Hoje descobri com o coração,
que o melhor colo que alguma vez poderei ter
é o meu próprio colo

Observação:Editei essa postagem para acrescentar uma informação muito importante,mas que por grande falha minha, foi esquecida.Essa frase foi copiada de uma postagem do dia 1 de Março de um blog belissímo chamado Deep Blue Sea.Quando visitei esse blog fiquei tão encantada que não resisiti e "roubei" essa pequena pérola de tão belo mar.Aqui vão meus sinceros pedidos de desculpa e perdão para Blue C.,autora da bela frase.
Sorry ;)

segunda-feira, março 28, 2005

Ás vezes tenho medo...

Ás vezes tenho medo ...

Medo de olhar e enxergar
Medo de sentir e gritar
Medo de escorregar e cair na lama
Medo de viver e morrer

Fico paralisada por algum tempo...

Esqueço que na vida nada é certo ou errado
Que tudo pode ser ou não
Que não há garantias
E tudo depende das minhas escolhas

Esqueço que meus olhos são estrelas
Que meus cabelos são os ventos das tempestades
E das pequenas asas nos meus pés

Esqueço que existe um vulcão dentro do meu coração
E que o sol brilha em meu peito
Intensificando a emoção
E clareando a razão

Daí-me força, meu Deus, para ser o que sou.
Força para seguir meu caminho sem medo
E ser feliz

Poema de: Cláudia Perotti

domingo, março 27, 2005

Não Soltar os Cavalos

Como em tudo, no escrever também tenho uma espécie de receio de ir longe demais. Que será isso? Por que? Retenho-me, como se retivesse as rédeas de um cavalo que pudesse galopar e me levar Deus sabe onde. Eu me guardo. Por que e para quê? Para o que estou eu me poupando? Eu já tive clara consciência disso quando uma vez escrevi: "é preciso não ter medo de criar". Por que o medo? Medo de conhecer os limites de minha capacidade? Ou medo do aprendiz de feiticeiro que não sabia como parar? Quem sabe, assim como uma mulher que se guarda intocada para dar-se um dia ao amor, talvez eu queira morrer toda inteira para que Deus me tenha toda.

Clarice Linspector

segunda-feira, março 21, 2005

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.
Álvaro de Campos

O Leproso

Sou o leproso e estou aqui. Não posso fazer muito mais coisas... Já sabem: a carne apodrece-me e cai deixando feridas.
Cheiro mal.
Se pudessem ver-me, ainda tinha um resto de nariz para vos mostrar. E os olhos, no fundo de uns buracos que têm aumentado imenso.
Mas não seria agradável olharem para mim. Nem eu próprio olho para mim: deixei de usar espelho há muito tempo. Não é necessário, aliás, porque os outros leprosos quase todas as manhãs me vão contando as novidades.
Acontece, normalmente depois de acordarmos. É que para nós também existem a noite e o dia, e muitas vezes conseguimos mesmo dormir no chão duro destas cavernas.
Dão-me os bons-dias e dizem qualquer coisa como: "Olha, pá, já não tens a orelha direita". E a verdade é que nessas ocasiões nos rimos muito. Acho, até, que estamos proibidos de viver nas cidades dos homens porque não querem ver-nos rir.
O único riso verdadeiramente puro é o daquele que se ri de uma orelha que caiu. Mas poucos sabem disso.
Se caminhássemos pelas avenidas haviam de lembrar-se de que todas as orelhas inevitavelmente cairão. E não é agradável que recordem constantemente a alguém a ameaça cada vez mais próxima de um problema para o qual não possui solução.
Nós também não temos solução. Rimo-nos.
A solução está em não haver solução. E esta forma divertida de aceitarmos que a vida seja como é, este modo sossegado de cooperarmos com o inevitável, significa para nós uma serenidade que é um tesouro sem preço.
Para os outros, somos somente a lembrança desagradável de que não passam, também eles, de leprosos adiados e de futuros cadáveres; de que, sem dúvida, não terão neste lugar o seu paraíso, por mais que façam crescer o saldo da sua conta bancária.
Somos um grito em forma humana, um aviso irrecusável, uma censura que inevitavelmente se aloja no fundo das consciências.
E, por isso, fomos empurrados para estas cavernas. O que, de resto, não nos incomoda demasiado, pois todo o planeta é, de certo modo, uma caverna. Lembramos perfeitamente a frase da mulher santa de Ávila, quando disse que esta vida não pode ser mais do que uma má noite numa má pousada.
Não querem cruzar-se connosco. Desejam abraçar sem perturbações a voragem alucinante do seu caminho de prazer e vaidade.
E viemos para estas cavernas. Os idosos foram expulsos das suas famílias e encerrados em "lares". Planearam a eutanásia para se verem livres dos doentes. E abortaram aqueles que poderiam vir a nascer com deficiências. E muitos foram abandonados às suas dores na solidão de negros hospitais. E fizeram muitas outras coisas.
Mas, do fundo destes buracos, temos um segredo para lhes dizer.
Quando, num momento de lucidez, descobrirem que tudo é vazio, venham ter connosco. Quando não souberem como fazer dos filhos homens direitos, passeiem com eles por um cemitério, sentem-se com eles à beira de um doente que sorri no leito onde vai morrer, levem-nos aos lugares onde há crianças esfomeadas a brincar, descalças e alegres.
Sim, podemos contar-lhes o segredo da alegria, o segredo da bondade das coisas más, o segredo da plenitude que habita as coisas simples da vida.

domingo, março 20, 2005

Fernando Pessoa II

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa

Vendaval


Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!
Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!
Mas dura planície,praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.
Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles, teu pulso de vida
Minh’alma do mundo!
Ah, se como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar
Fosse pr’onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!
Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?
Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!
E, pela noite que fazes mais’scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.
E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!
Meu coração triste,
meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!
Fernando Pessoa

quinta-feira, março 17, 2005

Poemas,Poetas,Poesias

Vozes, vozes, vozes...
Há mil, milhares de vozes

Sussurros, sussurros, sussurros...
Vozes em tom muito baixo

Gritos, gritos, gritos...
Vozes em tom muito alto

Vozes, vozes, vozes...
Baixo ou alto Grave ou agudo
Muito ou pouco
Tudo ou nada
Pronunciando inúmeras, inúmeras palavras

Palavras, palavras, palavras...
Flechas lançadas pelo arco boca
Erguidas pêlos braços e abraços da imaginação
Benditas por guerreiros denominados Sentimentos
Irradiadas e intensificadas pelas emoções

Emoções, emoções, emoções...
Ações e inspirações de um indivíduo
Possuído de sensibilidades em suas metas
Que tem o dom de aprisionar e perpetuar
Um momento de alegria ou tristeza
Nas entrelinhas de uma folha de papel
Suposições de tudo que há na terra ou no céu
Fontes de energia de todos aqueles chamados Poetas

Poetas, poetas, poetas...
Homens revolucionários nacionalistas por natureza
Mobilizados pela arte de transformar o mundo
Seres que vertem sangue.
Tocam fundo!
Com suas poderosas espadas esferográficas
Com suas eficientes catapultas de datilografar
Ou na tela de seu radioativo computador
Causando diversas idéias no vazio de algum lugar
Com os mais variados temas
Revelando beleza, despertando Amor
Gritando protestos, dizimando saudades
Seduzindo com os mais lindos poemas

Poemas, poemas, poemas...
Refletido ao coração pela anarquia de uma invasão de pensamentos
Instrumentos inimigos do tempo
Realidade ou mera fantasia
Viaja pêlos campos da criatividade
De todos aqueles ou destes poetas
Que plantam e nem sempre colhem felicidades
Desconhecendo a mentira e a verdade
E que fazem da poesia sua única liberdade

Jp Santsil